quarta-feira, 2 de julho de 2014

carta ao morto.

Querido morto,


Apesar de não parecer, meus dentes estão cada dia mais amarelados. Os lábios antes rosados, agora esbranquiçados e enrugados. Morro. Morro como uma fumaça de cigarro, vida breve, felicidade plena. Morro como um fogo em um cigarro, ansioso para chegar no fim, mas ainda esta no começo.
Eu morro, vendo da janela tantos pensamento ocultos, e paixões fazias, de pessoas que fumam a própria fumaça.
Desgasto a ponta de meus dedos, teclando, trincando a máquina de escrever que meu morto me deu. No papel esbranquiçado onde vejo o reflexo de meus pensamentos, escrevo para ti morto.

Tento me desculpar, minha alma, já não mais aqui se esvazia e se acalma de tudo. Quero um velório simplório, com elogios a minha pessoa, com lágrimas falsas e com perdões. Quero um beijo molhado, de um jovem qualquer, que ainda vai viver muito.
Minhas rugas são verdadeiros labirintos, que sentem falta de você, se perdendo cada dia mais nelas. Apesar de ti ser agora não mais que silêncio, me perco em tua saudade, e contamino o meu coração.

Traguei meu último cigarro, e aqui esboço, em minha ultima carta, as mais belas palavras que o homem já fez, perdoe-me pois minha respiração esta fraca e fraca, e tento dedilha assim:
eu o am

Mais uma vez.

Mais uma vez.

Os lábio finos dela se foram.
Mais uma vez.
Os olhos críticos, azulados
profundos como os oceanos,
se foram.
Mais uma vez.

Oh! O que farei, o que será de mim
sem seus cabelos enrolados em meu peito
ela se foi
Mais uma vez.

Pertenço ao um ser constante,
pertenço a uma vida de sofrimento
do qual eu gosto, pois nele
você não vai
Mais uma vez.

-K.